Páginas

sexta-feira, 12 de novembro de 2010



Sempre ouvi falar que nada cai do céu. Essa era a frase mais usada pelo meu pai até três anos atrás. Te esforça, te empenha, tenha garra, não te acomoda. Mas eu, com um otimismo de bolsa e um pensamento feliz, achava que tendo bons amigos e muito talento em sorrir para a vida tudo daria certo. Durante um (longo) período, fiz parte da Turma da Boa Vida. Estudei na melhor escola, fiz o que eu quis, nunca passei sufoco, tive todas as oportunidades que alguém de classe-média-mais-para-alta teria. Tive uma família que me deu apoio, empurrões e puxões de orelha. Mas a gente só se dá conta e entra no ringue quando suporta os socos fortes que o mundo dá – sem dó.
Meus amigos nunca tiveram que batalhar nada na vida: tudo veio de graça. Minha vida foi fácil, sem grandes esforços, meu pai , dizia que a gente tem que fazer por merecer. E eu, que achava que meu charme conquistaria o mundo, me enganei redondamente. Charme funciona para quem trabalha na TV. Na vida real, a coisa muda completamente.
 Gosto de tudo do meu jeito. É errado pensar assim? Talvez eu queira demais, é o que me digo todas as horas. Faço bico que nem criança quando algo não sai como planejado. Sou mimada e reconheço que, apesar das tentativas incessantes dos meus pais em me abrir os olhos, eu preferia olhar para um mundo que não existe (ou só existe dentro de mim?). Nesse mundo, as pessoas são legais, honestas e se ajudam sem esperar nada em troca. Ei, lá fora o mundo é diferente. Ei, nem todo mundo é legal. Ei, um dia você precisa sair da bolha. Eu duvidava dessas coisas que eles me diziam e eu e você sabemos que por trás da dúvida tem uma poesia bonita.
Uma coisa eu aprendi: você pode até ser legal com as pessoas, mas não espere que as pessoas sejam legais com você. Essa é a Lei de Sobrevivência. Entenda isso ou você vai sofrer pra burro. De vez em quando, sofro horrores. Me decepciono, fico frustrada, chocada, com medo. Mas continuo mantendo a minha essência, sendo boa com quem é bom. Sempre pensei assim: coisas muito boas acontecem com quem é bom. Mas entenda: não é só quem é bom para os outros, mas para quem também é bom para si mesmo. Não adianta você querer fazer o bem para fora. Antes de fazer para fora é preciso fazer para dentro.
Às vezes me perco no meio desse caos que eu sou. É emoção para todo lado, entende? Não, não queira ser eu. De vez em quando arde, de vez em quando queima. Sempre tive medo que as pessoas fizessem pouco caso dessas minhas tolices românticas, da minha forma de enxergar a vida. Porque eu enxergo a vida assim, pura. Talvez seja por isso que eu tenha tanta dificuldade em aceitar que existe essa sujeira absurda espalhada por aí.
Hoje eu sei, consigo entender e perceber que nada, nada é assim, de mão beijada – e existe, sim, gente muito filho da puta no mundo. Nada é tão certinho como eu pensava que fosse. E a vida é muito difícil às vezes. Pena que tive que dar tantas cabeçadas para descobrir – e sei que muitas me aguardam. Mas ainda bem que eu tenho uma família que está sempre ao meu lado, independente dos meus erros e acertos.

Crônica de Clarissa Corrêa, que tem muito de mim nesse momento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário