Saudade do que vivemos, de toda insanidade correspondida, das horas
juntos, de te ouvir cantar e as vezes sem refúgio me abraçar, da
cumplicidade dos dias e até das reclamações, dramas e repetições que as
outras nunca saberão imitar e entender as minhas. Talvez seja isso,
somos dois chatos que se identificam e se entendem.
Saudade dos fins de tarde, de presenciar a tua visão de futuro tão cheia
de sonhos e planos mirabolantes, da nossa observação tão
minuciosa e inconsequente do cotidiano tão diferente do nosso. Das
farras e gargalhadas que fazíamos com nossas próprias impressões de
mundo. Saudade dos contextos e panos de fundo que nos cercavam motivo de
tatas risadas.
Saudade sobre tudo, da nossa auto-suficiência em nos divertirmos sem
precisar de muito dinheiro, palácios ou diamantes apenas de uma
quantidade abundante de afeto, reciprocidade de sentimento e da amizade
que juntos cultivamos e nela podíamos passar dias conversando. "Quero
me lembrar dos verões, das canções e das lições que me ensinou."
Enfim, me sinto feliz em saber que nada disso se perdeu, em poder me
refugiar em lembranças tão gostosas onde sorrimos e choramos de
felicidade e a cada reencontro me certificar de que foi válido construir
o que a distancia nunca pode nos roubar: essa tal cumplicidade e a
vivência de anos indissolúvel.
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