Acho que estou
mais velha e mais chata, sim. Vejo pelas marquinhas que se mudaram para a
minha testa. Pelas coisas que não mais suporto. Não gosto de lugar
barulhento e apertado. Não gosto de assistir um show onde desconhecidos
esbarram em mim. Não gosto que gente estranha me cutuque. Não gosto de
rir feito uma hiena quando o papo é sério. Tem gente que não cresceu.
Sempre achei que tem a hora de brincar e a hora de falar que nem adulto. Tem gente que ri de tudo, até de
desgraça. Eu não consigo. Tenho meu lado criançola. Brinco, faço birra,
faço manha. E tenho meu lado adulto, responsável, que encara quando tem
que encarar, que não se esconde quando o bicho pega.
Passei
daquela fase da fofoquinha, em que o legal era se reunir em um boteco
de quinta categoria para falar da paixonite da vez (e a gente bebe e
chora e ri e bebe mais até fechar o boteco). E da roupa da Mariana. E da
cor da unha da Claudiana. E da voz esganiçada da Franciscana. Acho que
toda mulher passa por isso um dia. Um dia, eu disse. Não a vida inteira.
Eu fazia isso quando tinha 18 anos, era uma retardada, não sabia
direito o que era amizade e o que queria pra mim. Hoje eu sei. Hoje acho
ridículo grupinho que se junta para falar de A, B ou C. Quem fala de
todo mundo um dia fala de você. Pode apostar, é assim mesmo que
funciona. E tem gente que faz disso o seu esporte. Não gosto, mas fico
na minha
Minha
mãe sempre mandou tomar cuidado com as pessoas que se fazem de
boazinhas. Essas são as piores. Quem é filho da mãe escancarado nem
oferece tanto perigo, afinal, a gente sabe com quem está lidando. O
problema são aquelas pessoas que se fazem de legais e no fundo não valem
dez centavos. Não gosto de gente que pisa em cima dos outros ou tenta
se dar bem aprontando todas. Por isso, me recolho. Sou
tímida. Um montão de gente ri quando falo isso, mas sou tí-mi-da. Só
quem me conhece a fundo sabe. É que sou o tipo de gente que todo mundo
pensa que conhece. Mas se enganam feio. Pouquíssima gente me desvenda.
Mostro só o que quero. Não por maldade, mas por proteção. A gente tem
que aprender a se proteger. Das escolhas dos outros. E até mesmo das
nossas próprias escolhas.
(Clarissa Corrêa)
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