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sábado, 24 de setembro de 2011


Em tempos de deslumbre com a tecnologia, de consumismo descontrolado e da cultura do descartável, vale lembrar que o que nos dá conteúdo, de fato, é a valorização dos sentidos. Estar bem informado e bem sintonizado com as tendências do nosso tempo é importante, mas há diferença entre o que é importante e o que é vital. Vital é o sentir, mais do que o pensar.  É o que, em meio ao trânsito, às discussões, às filas, à pressa e às intermináveis reuniões de trabalho, nos faz transcender e nos instala num patamar mais sublime, inalcançável para quem se dedica apenas à vidinha besta diária. Há quem não reverencie as cores, as flores, estampas, misturas, audácias. O nude é elegante na moda, mas a vida nua e crua precisa de uns respingos de laranja, vermelho e verde para provocar estímulo, senão caímos em sono profundo, e sono profundo é a morte. Estou falando do tom com que colorimos a nossa história. Lamento por quem vive em sépia, deixando-se desbotar. Qual o sentido da vida? Que graça tem armazenar um milhão de “amigos” numa rede virtual, se envaidecer da própria conta bancária, buscar beleza em centros cirúrgicos, investir apenas no que é útil e rentável – ou então no supérfluo que dá status? Qual o sentido de acordar de manhã sem paz de espírito, caminhar por uma casa que não sorri de volta, passar o dia em frente ao computador sem olhar uma única vez pro céu? Qual o sentido de correr tantos riscos (violência, desamor, frustração, doenças) se não se tem uma vida interior protegida da miséria existencial?

O sentido está nos sentidos. Nada mais óbvio, nem mais bonito.


Jornal Zero Hora - 18 setembro 2011

Por : Martha Medeiros

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